quinta-feira, 20 de março de 2014

P. S.: Nem sempre a adaptação precisa ser 100% fiel

Sou do tipo de pessoa que gosta de cumprir promessas e, como fiz uma promessa no post anterior, vi que nada mais justo do que cumpri-la no post subsequente. Então lá vai:
Entre vários temas que eu poderia falar na minha volta ao blog, escolhi falar sobre adaptações de livros para cinema e televisão. Já falei sobre esse assunto anteriormente e pretendo não ser repetitiva, por isso, já tenho exatamente ideia sobre o que vou falar.
Gostaria de deixar bem claro que este post tem SPOILERS - isto é, revelação do enredo - do livro e do filme P.S. Eu Te Amo. Se você não estiver interessado em saber porque ainda não leu o livro ou viu o filme, pare por aqui, antes que você queira me matar. Depois não diga que não avisei!
Bem, eu vi o filme P.S. Eu Te Amo há uns três anos atrás ou mais. Lembro que passou em algum canal da TV por assinatura e fiquei curiosa pra assistir. Aliás, ultimamente, qualquer filme ou série baseado em um livro de sucesso me deixa curiosa pra ver. Claro que eu queria sempre ler o livro antes, mas nem sempre é possível.
Quer saber? Eu gostei do filme, achei bem legal, que se propôs ao que prometia, não vi nada de errado. Achei até que o lance de Gerry aparecer tinha um quê de espírito, mas percebi que era coisa da imaginação de Holly e fiquei de boa.
Ano passado, rolou Bienal do Livro na minha cidade. Eu poderia escrever um post só falando mal das bienais que rolam por aqui, porque, francamente, a galera ainda não conseguiu explorar de forma conveniente o potencial de um evento desses, mas isso fica para um próximo texto. Aproveitei pra comprar uns livros e me deu vontade de comprar o P.S. Eu Te Amo - que confesso que o preço não tava lá essas coisas, mas deu vontade, fazer o quê.
Comecei a ler no início do mês e a leitura é rápida, bem fluida. Gostei muito do livro e logo percebi várias mudanças em relação ao filme - apesar de nem me lembrar muito da história, porque só vi o longa uma vez e já tinha tempo. Em outros tempos, eu me revoltaria com as mudanças, mas dessa vez eu achei que tudo se encaixou muito bem em cada mídia.
Se não, vejamos: para um filme, muita graça tem Holly terminar ficando com Daniel. Um filme desses, um drama romântico, merece um happy end, não acha? Mas quem leu o livro sabe que, no fim das contas, Daniel e Holly não ficam juntos. E quem leu o livro primeiro pode ter ficado com muita raiva - eu não sei se ficaria, já que fiz o caminho oposto - mas, francamente, eu achei ótimo eles não terem ficado juntos no livro.
Tudo é uma questão de construção. No filme, fica claro que Holly estava caminhando para superar a dor de perder seu esposo. E ela consegue, a muito custo, mas consegue. Acontece de forma rápida, até porque um filme só conta com alguns minutos - acho que esse filme tem menos de duas horas, nem lembro mais - e tudo flui muito mais rapidamente.
No livro, Holly também segue o mesmo caminho. Mas é um caminho mais lento. Percebe-se que as coisas fluem mais devagar. O livro tem mais de 300 páginas e, mesmo com a leitura fluida, não é tão rápido de ler. Há também o lance psicológico muito mais explorado. E é até muito mais verossímil do que no longa-metragem.
Eu fiquei encantada por ver no livro um assunto polêmico ser explorado. Sim, sim, Cecelia Ahern descreveu bem o lance de sentir inveja do sucesso dos outros. Holly sentiu raiva por ver suas melhores amigas caminhando com suas vidas, Sharon com o bebê e Denise com o casamento. Todo mundo, em algum momento da vida, já deve ter sentido inveja de algum amigo pelo bom momento de vida dele no momento que o seu próprio estava mau. Eu achei isso tão real, tão verdadeiro. Fantástico!
Além disso, percebe-se que tanto Holly quanto Daniel tentam caminhar juntos, mas algo não se encaixa. E então, ele volta pra Laura (isso me deixou irritada, porque ela parecia ser insuportável, mas enfim...) e ela segue sua vida tentando viver e não apenas sobreviver. Superar o luto do esposo amado não deve ser fácil e dez meses é muito pouco. Não significa que ela ficará sozinha 4ever - as últimas páginas mostram ela voltando a conversar com aquele carinha - mas também não significa que ela em meses vai arranjar outro cara.
Tudo é uma questão de tempo e a grande lição do livro é: há tempo para tudo. Mas, mais do que isso, a grande sacada é entender que não é porque você tá triste que todos ao seu redor têm de ficar depressivos e se compadecer de você o tempo todo. A vida segue, há momentos bons e ruins e precisamos nos "alegrar com quem se alegra" e não apenas "chorar com os que choram" - bíblico, sim!
Além de tudo isso, descobri também que uma adaptação não precisa ser 100% fiel para ser ótima. A solução para o filme me pareceu ótima, mas o livro, realmente, me ensinou muito mais coisas. Mas é sempre assim: o livro me ajuda a imaginar mais, criar mais, aprender mais. Mas, eu só chegaria ao livro por causa do filme, então o longa também tem seu mérito.
Claro que não são todas as adaptações que vão me fazer sentir assim. Tem umas que precisam procurar ser mais fiéis mesmo - as de Jane Austen, principalmente, porque tenho muito zelo pelas obras dela rs.
Bem, eu continuo com minhas leituras e em breve pretendo escrever sobre isso.
É isso. (Saudade de terminar meus posts com essa frase!)  

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